Miriam Fonkam – Yola/Nigéria
Miriam Carvalho Fonkam e Thu Pam

Intercâmbio nos Estados Unidos

Por Mirian Luzia Carvalho Fonkam e Thu Pam – Las Vegas/Estados Unidos

 

A simpática e enérgica diretora guiou-me pelo auditório da escola. Todos giraram seus rostos para ver a nova aluna que tomou para si duas semanas extras de férias: eu.  
- Thu esta é Mírian. Mírian é do Brasil e estudava antes na Nigéria. Mírian esta é Thu, ela é minha filha-hóspede do Vietnã. Ela será sua guia ápor esta semana. Mais uma vez seja bem-vinda, Mírian. - Ela disse.

- Obrigada.

- Eu respondi, um pouco antes da diretora se retirar à passos apressados.
- Prazer em te conhecer, Mírian. - Thu disse.

- O prazer é todo meu...  Como se pronuncia seu nome? - Perguntei.
- Thu, como o número dois. - Ela sorriu, fazendo o símbolo de paz e amor com as mãos.
- Ah tá! Eu não esquecerei! - Afirmei.

E assim iniciamos uma grande amizade. Apesar de sermos muito diferentes em diversos aspectos, somos unidas pelo interesse em compartilharmos experiências culturais.
Quando soube que eu iria mudar de escola, decidimos escrever esta crônica, para refletir sobre nossas expectativas de vim estudar na América e a realidade que se apresenta para nós a cada dia. Então, escrevemos uma historinha que nos rendeu muitos risos sobre a vinda de Thu aos Estados Unidos.
“Foram apenas oito meses estudando fora do meu país, no entanto, olhando para trás, vejo um caminho longo percorrido. Vivenciando experiências inusitadas durante o programa de intercâmbio, conclui que existe uma grande diferença entre a expectativa e realidade de ser uma estudante internacional nos Estados Unidos.
Há oito meses, preparava-me para a viagem mais importante da minha vida. Três malas de viagem, uma mente cheia de pensamentos e cinco mil dólares (equivalente a vinte mil reais) em espécie.... Eu nunca tinha visto ou tocado tanto dinheiro. Imagino que a maioria dos adolescentes também não. Mas, uma coisa eu posso assegurar: você nunca desejaria passar pela estanha situação em que eu me meti por causa daquele dinheiro...

- Não mãe, você não precisa fazer isso! - Eu implorei. - Tomarei cuidado, prometo!
- Não, Filha. Você é desastrada. Acredite em mim, eu te conheço por mais tempo que você conhece a si mesma.

Então, ela amarrou a linha firmemente, terminando de costurar os cinco mil dólares na parte de dentro do meu jeans. (Meu Deus! Isso é tão vergonhoso). Se você tem uma mente fértil, provavelmente acertou. Justamente naquela parte do jeans...
O voo do Vietnã para a terra das oportunidades durou onze horas. Um tanto longo. As pessoas em minha volta assistiam filmes ou roncavam com suas bocas abertas. Enquanto eu, entre a ansiedade da viagem e o desconforto de sentar sobre cinco mil dólares, passei o tempo inteiro imaginando o quão fantástica minha vida seria. Queria que fosse tudo perfeito a partir do momento que meus pés tocassem o solo de Las Vegas. Era exatamente assim que estava na minha mente: sem controle dos pais, dinheiro nas mãos, poderei ir aos lugares onde quiser e comprar tudo o que quiser. Liberdade! Esse é o país da liberdade, lá eu poderei fazer tudo o que quiser.

Minha escola no Vietnã começa às 7:00 da manhã e termina às 5:00 da tarde, com três horas adicionais de reforço. No entanto, nos EUA, a escola começa às 8:00 da manhã e termina às 3:00 da tarde. Eu iria ter mais tempo livre. Isso era o paraíso para mim.
Porém, as coisas nunca acontecem tão perfeitamente como desejamos. Hoje, eu descrevo meu intercâmbio como um renascimento em outro país. Desde que cheguei aqui, comecei a aprender novas palavras, porque minha personalidade não podia suportar ser considerada reservada. Eu não tenho tanto tempo extra como imaginava: a necessidade de aprender novas palavras parece nunca acabar, não importa o quanto tempo eu gaste tentando aprendê-las.

Falando sobre gastar.... Quando desembarquei em Las Vegas, fui imediatamente forçada a entregar todo o dinheiro para a minha tia, por que meus pais Vietnamitas não confiam em mim para administrar aquela quantidade de dinheiro. Sobre a liberdade, bem, eu tenho mais liberdade do que quando morava com meus pais. Posso dormir pelo tempo que quiser. Posso recusar ou repetir uma refeição sem ser repreendida.

Gosto de passear por lojas, parques ou vizinhança. É um hábito prazeroso. Porém, em Las Vegas, por questões de segurança e da ineficiência do transporte público, é melhor ficar em casa se você não tem carro.

Eu nunca morei tão longe da minha cidade natal. É a primeira vez que fui para longe dos braços de meus pais. E é tão longe! Que às vezes eu me pergunto por que estou aqui, nesse país desconhecido. Quanto mais eu relembro a minha inocência sobre o quanto eu queria vir para América, mais eu quero retornar.
Ao mesmo tempo, as coisas não estão indo mal para mim. Na verdade, é bem gratificante. Minha mãe, meu pai, meus antigos professores e meus amigos, dizem que eu sou muito sortuda de morar com uma família hospedeira tão agradável. Eles me tratam como se eu fosse sua filha. Ás vezes me sinto um pouco mal porque nunca sou repreendida por nada, enquanto seus filhos recebem carões frequentemente. Eles têm mais tarefas domésticas do que eu; eles têm os olhos de seus pais sobre eles a cada segundo (OK, eu estou exagerando).

Minha mãe fazia isso comigo o tempo todo, quando estava no Vietnã. Agora que estou longe dela, eu realmente sinto falta daquela sensação irritante, da sensação de ser gritada, do sentimento de suas restrições e do seu olhar irritado quando eu quebrava as regras dela.... Eu sinto muita falta dela e do meu pai e desejo eles, perto de mim, me acompanhando para sempre e onde quer que eu vá!
É como se eu quisesse unir os dois universos, mas isso é impossível. Ficar ou voltar? Eu estou claramente tão confusa! E esta é a realidade de ser um estudante de intercâmbio. ”
O relato de minha amiga, Thu, serve para os estudantes e seus familiares refletirem. Antes de viajar para um intercâmbio ou mandar alguma pessoa próxima em um programa desse tipo, é importante ter em mente que estudar fora é um verdadeiro mar de rosas.

Como as pétalas de uma rosa, uma experiência acadêmica no estrangeiro amplia o nosso conhecimento de mundo, nos proporciona novas amizades, domínio de uma nova língua e visitas a lugares inesquecíveis. Por outro lado, não se deixe enganar pelas belas fotos e vídeos dessas viagens. As rosas também contêm espinhos. Ao morar fora de nosso país, por um longo tempo, passamos por muitas dificuldades de adaptação cultural; sentimos saudade da família, dos amigos, da comida e de nossas tradições...Superados estes desafios, no final das contas, a experiência internacional é muito recompensadora. As pétalas assim como os espinhos são igualmente importantes para o nosso crescimento e realização pessoal.
                                                                                          


Biblioteca de Miriam Luzia Carvalho Fonkam (Las Vegas - Estados Unidos)

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Você acha que as condições de vida e de trabalho dos servidores públicos brasileiros estão muito ruins? Então avalie nas imagens a seguir algumas situações vividas por servidores públicos em outros países.

As situações foram flagradas pelo fotógrafo holandês Jan Banning que passou cinco anos fotografando o serviço púbico em oito países China, Estados Unidos, Libéria, Bolívia, França, Índia, Rússia e Iêmen e as imagens estão disponíveis na internet.

Acesso ao portal do fotógrafo Jan Banning

© Jennifer King
© Jennifer King


Ivan Quispe Lopez é um policial boliviano, que faz tudo a pé. Para usar o telefone precisa ir até o lado de fora da sua sala. Seu salário é de 113 dólares mensais.


 

As máquinas de escrever, aparentemente enferrujados estão aguardando o seu uso: o serviço 40% de pessoal e os equipamentos estão estragando na sala do Departamento de Finanças, na Índia.

 



Nadja Ali Gayt é consultora do Ministério da Agricultura do Iêmen. Seu salário é de 160 doláres.

Ram Yadav Prabodh é sub-inspector da polícia em Maner Block, na Índia. Seu salário mensal é de 220 doláres. 



Sushma Prasad é escrivã assistente na Secretaria do Gabinete do Estado de Bihar, na Índia. Ela foi contratada "por motivos de compaixão" por causa da morte de seu marido, que até 1997 trabalhava no mesmo departamento. Seu salário mensal é de 110 dólares. 

Mohammed Hamid Azein recolhe as contas mensais de água no distrito de Shibam, Iêmen. Seu salário mensal é de 121 doláres. Porém, está há cinco meses sem receber.

 



Surinder Kumar Mandal é inspector do círculo de impostos no bloco Thakurganj, na Índia. Seu salário mensal é de 208 dólares.

Warford Weadatu Sr. é administrador da cidade de Nyenawliken, na Libéria. Ele não tem orçamento para o distrito e está há mais de um ano sem receber seu salário mensal de 20 doláres.


Enquanto isso...

Dede McEachern é diretora de lincenças no Texas (EUA). Seu salário é de quase 6 mil doláres mensais.

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